O infarto que deu certo.
Crônicas de um Hospital Cardiológico
Numa quarta-feira de julho, encontrava-me imerso na habitual agitação de um hospital cardiológico. Corredores efervescentes, emergência abarrotada, e eu a iniciar mais um dia de plantão. Optei por chegar mais cedo, por volta das seis e meia, para substituir meu colega. Após cumprimentos matinais, iniciamos o “Round”, encontro médico para atualização sobre os pacientes e discussão de tratamentos. Subitamente, uma enfermeira interrompeu nossa rotina, urgente:
“Doutor, doutor! Precisamos de uma vaga já! Um senhor de uns sessenta anos está com dor no peito intensa. O médico de plantão já o avaliou e pede sua assistência. Suspeitamos de problema cardíaco!” – exclamava ela.
Imediatamente, mobilizamo-nos para atender o senhor. Em minutos, uma maca com equipamentos avançava pela unidade, conduzida por uma equipe ágil. O paciente, um homem de cabelos escuros e pele marcada pelo sol, trajava um pijama azul. Seu olhar transparecia medo e incerteza, as mãos pressionando o peito em agonia. Ele, ofegante, suplicou:
“Doutor, me ajude, por favor! Essa dor no peito vai me matar!”
Busquei acalmá-lo. O quadro sugeria angina, com dor irradiando para o braço e pescoço. Como cardiologista, aquilo não era novidade. Perguntei-lhe sobre o início da dor, e ele respondeu que começara há meia hora, enquanto preparava o café.
O tempo era crucial. Em situações de infarto, “tempo é músculo”. Solicitei um eletrocardiograma e, ao analisá-lo, confirmei um infarto com supradesnível do segmento ST. Agora, com diagnóstico definido, coletei informações adicionais sobre o paciente e expliquei o procedimento a seguir.
Rapidamente, iniciamos o tratamento e o encaminhamos para hemodinâmica. No procedimento, acessamos as artérias do braço para visualizar o coração e confirmar a obstrução arterial. O sucesso veio com a instalação de um stent, reestabelecendo o fluxo sanguíneo e salvando o tecido cardíaco.
Na Unidade Coronariana Intensiva, tranquilizei o paciente e sua esposa, enfatizando o êxito do procedimento. Ressaltei a importância de seguir orientações médicas para evitar futuras complicações cardíacas.
Esta crônica não termina aqui. O paciente se recuperou, mas era crucial a mudança de hábitos para um futuro saudável. Nos dias seguintes, ele compartilhou sua jornada de recuperação e superação desse episódio crítico.
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