Remédio para abaixar Colesterol faz mal? A Vitaminomania e os detratores das estatinas.
Nos últimos anos, as estatinas têm sido alvo de intensos debates na internet, com algumas figuras proeminentes, incluindo médicos youtubers, criticando veementemente o uso dessa classe de medicamentos. Embora seja legítimo questionar qualquer intervenção médica, é essencial abordar essas críticas de maneira fundamentada e entender a relevância das estatísticas na redução da mortalidade cardiovascular.
As estatinas ( Sinvastatina, Atorvastatina, Rosuvastatina entre outras) são medicamentos prescritos para reduzir os níveis de colesterol no sangue, especialmente o LDL (colesterol ruim). Sabe-se que níveis elevados de LDL estão associados a um aumento do risco de doenças cardiovasculares, incluindo ataques cardíacos (Infarto do miocárdio) e acidentes vasculares cerebrais (Os Derrames). As estatinas funcionam inibindo uma enzima responsável pela produção de colesterol no fígado, resultando em redução do LDL.
Evidências Científicas robustas e Benefícios Claros
Uma das questões mais estudadas na história da Medicina é o papel da dislipidemia (colesterol alto) na doença cardiovascular. Numerosos estudos clínicos demonstraram consistentemente os benefícios das estatinas na redução do risco cardiovascular. Uma das críticas comuns são os efeitos colaterais. Entretanto, a maioria dos efeitos colaterais das estatinas é leve e quando presente são transitórios, enquanto os benefícios extraordinários.
Esta longa jornada iniciou-se em 1994, com o estudo 4S (Scandinavian Statin Survival Study), que incluiu 4.444 pacientes com doença arterial coronariana para utilizar sinvastatina ou placebo, o que isso quer dizer? De maneira prática esses quatro mil pacientes com características parecidas dividiram-se em dois grupos, um tomando sinvastatina e o outro um remédio de farinha (Placebo) e o resultado foi uma redução de mortalidade em 30% nos pacientes que tomavam estatinas comparado ao grupo que tomava placebo. Desde então, vários outros estudos demonstraram o papel da estatina na prevenção primária (quem nunca teve um infarto ou derrame) e na prevenção secundária (Quem já teve infarto ou derrame), seja comparando estatina e placebo (MEGA, JUPITER, ASCOT-LLA, WOSCOPS, GISSI, ALERT, ALLHAT, Post-CABG, LIPID, PROSPER, CORONA, CARE, ALLIANCE, 4S, 4D, HOPE-3, etc.) ou diferentes intensidades de tratamento com estatina (SEARCH, A to Z, TNT, IDEAL, PROVE-IT). No total, mais de 180 mil pacientes já foram incluídos em ensaios clínicos randomizados com estatina – nem estamos contando os estudos com outros hipolipemiantes.
Uma metanálise de 2010 (Cholesterol Treatment Trialists), com 170 mil participantes em ensaios clínicos com estatina demonstrou uma redução muito consistente de 22% de risco de eventos cardiovasculares para cada 38 mg/dL de LDL a menos (1 mmol/L).
Não restam dúvidas dos benefícios em reduzir o colesterol LDL (RUIM) através do uso de estatinas, traz benefícios tanto na prevenção primária quanto na prevenção secundária.
Desafios na Comunicação Online
A internet é uma plataforma poderosa que permite que informações sejam compartilhadas rapidamente, mas também é propícia a informações não verificadas e sensacionalismo. Alguns youtubers podem explorar essa plataforma para ganhar seguidores ao adotar uma postura competitiva à corrente médica. Isso não apenas cria confusão entre os leigos, mas também pode levar à tomada de decisões equivocadas em relação à saúde. Hoje no consultório é comum uma resistência descabida ao uso das estatinas, entretanto, uma aceitação absurda a poli vitamínicos com valores astronômicos.
É um paradoxo, os paciente solicitam vitaminas com custos financeiros altos sem beneficio comprovado e resistem ao uso de estatinas com benefícios sólidos por que??
A velocidade da informação cientifica médica é fantástica, a comunidade médica se atualiza e troca informações de maneira continua nos congressos e revistas médicas como no congresso da European Society of Cardiology (ESC), que acontece entre os dias 25 e 28 de agosto, em Amsterdã, na Holanda. O evento traz as principais novidades da cardiologia mundial.
Possíveis Motivações
As motivações por trás das críticas infundadas às estatinas podem variar. Alguns têm participação pessoal contra a medicalização que é legitimo a parte mais dificil da medicina é convencer o paciente a mudar o seu estilo de vida (se alimentar bem e fazer atividade física) , enquanto outros podem estar promovendo produtos alternativos. É fundamental lembrar que a medicina baseada em evidências é uma abordagem científica que exige análise crítica e cuidadosa das informações disponíveis.
As estatinas desempenham um papel crucial na redução da mortalidade cardiovascular e têm um respaldo científico sólido. Embora seja válido questionar qualquer tratamento médico, as críticas infundadas nas redes sociais podem criar um ambiente prejudicial, minando a confiança nas intervenções médicas comprovadas. É essencial que os profissionais de saúde, os meios de comunicação e o público em geral busquem informações confiáveis e baseadas em evidências para verificar a eficácia e os riscos de qualquer medicamento.
Dario Santuchi, Médico (CRM-ES: 11491) especialista em Clinica Médica e Cardiologia ( RQE 10191 / 13520) e Mestre em Ciências da Saúde. Diretor do #Hospital LMC – Hospital Linhares Medical Center
Referências
Randomized trial of cholesterol lowering in 4.444 patients with coronary heart disease: the Scandinavian Simvastatin Survival Study. The Lancet 1994;344:1383-1389
Efficacy and safety of more intensive lowering of LDL cholesterol: a meta-analysis of data from 170.000 participants in 26 randomized trials. The Lancet 2010;376:1670-81.
Intensive versus Moderate Lipid Lowering with Statins after Acute Coronary Syndromes. N Eng J Med 2004; 350:1495-1504
2013 ACC/AHA Guidelines on the Treatment of Blood Cholesterol to Reduce Atherosclerotic Cardiovascular Risk in Adults. Circulation 2014; 129:S1-S45.