Implantes Hormonais no Brasil: Um Alerta da Comunidade Médica
Nos últimos anos, temos assistido a um aumento alarmante no uso indiscriminado de implantes hormonais no Brasil. Tais implantes, frequentemente compostos por esteroides anabolizantes, são promovidos como soluções milagrosas para alcançar o “corpo perfeito” e um estilo de vida aparentemente saudável. Contudo, essa prática é marcada por um viés comercial agressivo e carente de respaldo científico.
O Contexto e os Riscos Envolvidos
Os implantes hormonais, popularmente conhecidos como “chip da beleza”, são vendidos em consultórios médicos como tratamentos para a menopausa, antienvelhecimento, redução de gordura corporal, aumento da libido e massa muscular. Essa banalização da prescrição, muitas vezes divulgada livremente nas redes sociais, carece de suporte ético e científico.
É importante destacar que a ANVISA não aprova a comercialização e produção industrial desses implantes, exceto para o etonogestrel, usado como anticoncepcional (Implanon). A maioria desses implantes é manipulada sem informações adequadas sobre farmacocinética, eficácia ou segurança, o que agrava a incerteza sobre seus desfechos a longo prazo.
Complicações e Efeitos Colaterais
O uso de implantes hormonais pode resultar em complicações sérias e imprevisíveis, incluindo infarto agudo do miocárdio, tromboembolismo, acidente vascular cerebral, complicações cutâneas, hepáticas, renais, musculares, além de infecções. Manifestações psicológicas e psiquiátricas, como ansiedade, agressividade, dependência, abstinência e depressão, também são cada vez mais comuns.
Nas mulheres, os riscos adicionais incluem acne, hirsutismo, queda de cabelo, aumento do clitóris, engrossamento da voz (irreversível), irregularidade menstrual, infertilidade e malformação fetal. A retirada desses implantes pode ser tecnicamente desafiadora, conforme relatado por profissionais da área.
A Posição das Sociedades Médicas
As principais sociedades médicas brasileiras têm se manifestado contra o uso indiscriminado de implantes hormonais. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Federação Brasileira de Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) já alertaram sobre a falta de estudos consistentes de eficácia e segurança. Em março de 2023, diversas sociedades, incluindo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cobraram a regulamentação pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) do uso indevido de esteroides anabolizantes para fins estéticos, resultando na proibição da prescrição dessas terapias em abril de 2023.
Conclusão
Diante do agravamento desse cenário, é imperativo que a ANVISA fortaleça a regulamentação e controle da manipulação e prescrição de medicamentos hormonais. A proteção da saúde da população deve ser prioridade, com base em evidências científicas robustas e práticas éticas. Como profissionais de saúde, é nosso dever alertar e proteger nossos pacientes contra práticas que, ao invés de promoverem saúde, trazem riscos sérios e muitas vezes irreversíveis.
Referências:
- Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM): Posicionamento sobre uso de esteroides anabolizantes para fins estéticos.
- Conselho Federal de Medicina (CFM): Resolução proibindo a prescrição médica de terapias hormonais para fins estéticos.
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA): Proibição da publicidade de implantes de gestrinona e inclusão da droga na lista de medicamentos controlados.
- https://www.medicinadoesporte.org.br/wp-content/uploads/2023/12/Carta-das-Sociedades-Medicas-a-ANVISA.pdf
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