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Estudo piloto Cathedral-HF – que investigou pacientes com melhora da fração de ejeção em insuficiência cardíaca (HFimpEF)


Estudo clínico aberto, piloto, randomizado, em centro único, incluindo pacientes com HFimpEF usando carvedilol em dose otimizada e inibidores da RAAS

Critérios de Inclusão

  • Fração de ejeção prévia ≤ 40% e atualmente ≥ 50%
  • NT-proBNP ≤ 250 pg/mL
  • Carvedilol + IECA/BRA/ARNI + espironolactona/furosemida

Critérios de Exclusão

  • Miocardiopatias isquêmica, hipertensiva, valvar, infiltrativa e de Chagas
  • Clearance de creatinina < 30 mL/min/1,73 m²
  • Indicações formais para uso de IECA ou BRA

Desfecho Primário

a. Aumento de 100% do NT-proBNP > 400 ng/mL
b. Aumento do volume diastólico final do VE (LVEDVi) > 10% para além da faixa normal
c. Redução da fração de ejeção do VE (LVEF) > 10% e para < 50%
d. Insuficiência cardíaca clínica

População do Estudo (Baseline)

  • 60 pacientes
  • 58,3% com miocardiopatia dilatada idiopática
  • Mediana da fração de ejeção: 59%
  • NT-proBNP médio: 83,5 pg/mL
  • 53,3% homens
  • Idade média: 55 anos

Intervenção

Após randomização 1:1:

🔵 Grupo Controle:

  • Retirada progressiva do tratamento para IC, mantendo carvedilol otimizado

🟣 Grupo Intervenção:

  • Carvedilol otimizado
  • IECA ou BRA
  • ± Espironolactona/furosemida

Desfechos em 24 e 52 semanas

TempoControle (n)Intervenção (n)
24 sem3 (10%)1 (3,3%)
52 sem4 (14,8%)4 (15,4%)

Legenda dos eventos:
a. Aumento de NT-proBNP
b. Aumento do LVEDVi
c. Redução da FEVE
d. IC clínica

✅ Nenhuma hospitalização ou morte por insuficiência cardíaca.

Sobrevida livre de recorrência de disfunção ventricular

  • Sobrevida sem recorrência:
    🔵 Controle: 15,4%
    🟣 Intervenção: 14,8%
  • OR 0,96 (IC 95%: 0,15–5,8), p = 0,95

Parâmetros ecocardiográficos e biomarcadores

  1. Fração de ejeção do ventrículo esquerdo (%)
    • Diferença não significativa entre grupos
    • Tempo p<0.0001 (ambos melhoram)
    • Interação p=0.54
  2. Índice de volume diastólico final do VE (mL/m²)
    • Sem diferença significativa
    • Interação p=0.75
  3. NT-proBNP (pg/mL)
    • Sem diferenças entre os grupos
    • Interação p=0.99

 

Conclusões possíveis do estudo Cathedral-HF

  1. Retirada parcial do tratamento para IC em pacientes com HFimpEF pode ser segura em curto e médio prazo

    • A retirada progressiva do tratamento para insuficiência cardíaca (exceto carvedilol) não aumentou a recorrência de disfunção ventricular nem eventos clínicos (hospitalização ou morte por IC).

    • Sobrevida livre de recorrência de disfunção ventricular foi semelhante entre os grupos:

      • Controle: 15,4% tiveram recorrência

      • Intervenção: 14,8%

      • p = 0,95 (sem significância estatística)

  2. Nenhuma diferença significativa nos parâmetros estruturais e funcionais cardíacos

    • Fração de ejeção (FEVE), volume diastólico final do VE (LVEDVi) e NT-proBNP não se alteraram de forma clinicamente ou estatisticamente significativa entre os grupos.

  3. Não houve aumento significativo de biomarcadores ou necessidade de hospitalização nos pacientes com retirada de tratamento

    • Isso pode indicar que alguns pacientes com recuperação da FEVE (HFimpEF) toleram descalonamento do tratamento farmacológico, desde que o carvedilol seja mantido.


⚠️ Mas é preciso cautela:

  • Estudo pequeno (n=60), piloto, em centro único → os resultados não podem ser generalizados.

  • O estudo foi não cego e aberto, o que aumenta o risco de viés.

  • Pacientes selecionados: todos com miocardiopatia idiopática, sem outras causas de IC, o que pode não representar a prática clínica real.


🧠 Conclusão prática resumida:

Em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção previamente reduzida e atualmente preservada (HFimpEF), cuidadosamente selecionados, a retirada progressiva de parte do tratamento para IC (exceto carvedilol) pode ser considerada segura, sem aumento significativo de desfechos adversos em até 1 ano.
No entanto, são necessários estudos maiores, multicêntricos e com follow-up mais longo para confirmar esses achados.

Obs: 🩺 Conteúdo informativo destinado a profissionais da saúde.
A retirada ou ajuste de medicamentos em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção recuperada (HFimpEF) deve ser sempre realizada sob orientação médica individualizada. Nunca suspenda medicamentos por conta própria.

-Médico Especialista em Clínica Médica e Cardiologia com Mestrado em Ciências da Saúde - Medicina & Biomedicina
- Professor Universitário - Cadeira de Ciências Morfofuncionais aplicadas à Clínica na Universidade Anhanguera e UVV. - Diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia capitulo Espirito Santo 20/21. Membro da Equipe de Cardiologia do Hospital Rio Doce, Hospital Unimed Norte Capixaba e Hospital Linhares Medical center. CRM-ES 11491 RQE 10191 - RQE 13520

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