
Delirium em Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
Delirium em Pacientes Críticos: Abordagem Atual e Estratégias de Enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva
Resumo
O delirium é uma síndrome neuropsiquiátrica aguda, frequentemente subdiagnosticada, que acomete até 80% dos pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), especialmente aqueles em ventilação mecânica. Sua ocorrência está associada a maiores taxas de mortalidade, tempo prolongado de internação e pior prognóstico funcional. Este artigo tem como objetivo revisar os principais aspectos clínicos, fatores de risco, métodos diagnósticos e estratégias de prevenção e manejo do delirium, com ênfase na atuação da equipe de enfermagem e no cuidado humanizado.
1. Introdução
O delirium é definido como uma alteração aguda e flutuante da consciência, atenção e cognição, secundária a uma condição médica subjacente. Apesar de sua alta prevalência em ambientes de terapia intensiva, seu reconhecimento clínico ainda é limitado, especialmente nas formas hipoativas. Estudos demonstram que a presença de delirium em pacientes críticos está associada ao aumento do tempo de ventilação mecânica, maior tempo de internação hospitalar e declínio cognitivo persistente.
2. Fisiopatologia e Classificação
O delirium resulta de uma disfunção cerebral aguda multifatorial, envolvendo desequilíbrios nos neurotransmissores (como dopamina e acetilcolina), inflamação sistêmica, hipóxia e distúrbios metabólicos. Clinicamente, é classificado em três formas:
Hipoativo: caracterizado por letargia, fala reduzida e diminuição da responsividade.
Hiperativo: caracterizado por agitação psicomotora, alucinações e comportamento agressivo.
Misto: alternância entre os estados anteriores.
3. Fatores de Risco
Fatores predisponentes incluem idade avançada, demência prévia, comorbidades neurológicas e uso crônico de benzodiazepínicos. Fatores precipitantes comuns em UTI são sepse, hipoxemia, distúrbios hidroeletrolíticos, privação do sono e uso de sedativos potentes.
4. Diagnóstico
A identificação do delirium deve ser sistemática. A ferramenta validada mais utilizada é o Confusion Assessment Method for the ICU (CAM-ICU), baseada nos seguintes critérios:
Início agudo e curso flutuante
Déficit de atenção
Alteração do nível de consciência
Pensamento desorganizado
O diagnóstico é confirmado pela presença dos critérios 1 e 2, mais 3 ou 4.
5. Prevenção e Manejo Não Farmacológico
A prevenção do delirium envolve uma série de medidas não farmacológicas baseadas em evidências:
Reorientação frequente do paciente
Estímulo à presença de familiares
Promoção de um ambiente com ciclos de luz e escuridão adequados
Correção de distúrbios metabólicos
Mobilização precoce
Evitar uso excessivo de sedativos, especialmente benzodiazepínicos.
6. Tratamento Farmacológico
O tratamento medicamentoso deve ser reservado a casos de risco para o paciente ou a equipe, como em delirium hiperativo grave. Antipsicóticos como haloperidol e quetiapina são os mais utilizados. A dexmedetomidina tem se mostrado eficaz em casos refratários e como sedativo alternativo, pois possui menos efeitos deletérios cognitivos.
7. Papel da Enfermagem e Cuidado Humanizado
A equipe de enfermagem tem papel central na prevenção, detecção precoce e manejo do delirium. Além de aplicar escalas de avaliação como o CAM-ICU, os profissionais devem atuar com estratégias de comunicação efetiva, cuidado centrado no paciente e promoção do conforto ambiental. A educação da família e o cuidado humanizado são fundamentais para reduzir o estresse e promover a recuperação cognitiva.
8. Conclusão
O delirium em UTI é uma síndrome de alta prevalência e impacto significativo. A abordagem deve ser proativa e multidisciplinar, com foco na identificação precoce, prevenção e minimização de fatores de risco. A enfermagem, por sua proximidade com o paciente, ocupa posição privilegiada no cuidado integral e humanizado, sendo essencial na construção de uma UTI mais consciente, segura e eficaz.
Referências
HAMI – Livro Didático de Unidade de Terapia Intensiva – Unidades 1 a 4.
Westphal, G.A., Caldeira Filho, M. (2009). Manual Prático de Medicina Intensiva. 5ª ed. Segmento Farma.
American Delirium Society. Clinical Practice Guidelines for Delirium in ICU.
Ely, E.W., et al. Delirium in mechanically ventilated patients: validity and reliability of the CAM-ICU. JAMA, 2001.