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Aula 2 Cavidade Oral

A cavidade oral é a primeira porção do trato GI e consiste em:

  • Boca (vestíbulo da boca) – estreito espaço entre os lábios ou bochechas, e os dentes ou gengivas
  • Cavidade própria da boca – inclui o palato (duro e mole), dentes, gengivas, glândulas salivares e língua.

 

As mucosas do palato, bochechas, língua e lábios contêm numerosas glândulas salivares menores que secretam diretamente na cavidade oral. Além disso, três pares de glândulas salivares maiores produzem a saliva para ajudar na digestão, amolecimento e deglutição (engolir) da comida. A saliva também mantém a superfície da mucosa úmida e lubrificada para proteger contra a abrasão, controla as bactérias da boca pela secreção de lisozima, secreta cálcio e fosfato para a formação e a manutenção dos dentes, bem como secreta a amilase para começar a digestão dos carboidratos. As células acinosas serosas das glândulas salivares secretam os componentes proteicos e enzimáticos da saliva, enquanto as células acinosas mucosas secretam um muco aquoso.

Finalmente, a lipase lingual, secretada pelas glândulas serosas da língua, se mistura à saliva e começa a digestão das gorduras.

Parótida ( NC IX), Submandibular ( VII) e Sublingual (VII)
N.C IX – Estimula a Parótida – N.C VII Estimula o submandibular e  sublingual

 

1. Palato duro 2. Palato mole 3. Tonsilas Palatina, 4. Língua 5. Úvula palatina

 

4. Língua 5. Úvula Palatina 6. Glândulas sublinguais 7. Glândula submandibular 8. Glândula Parótida.

A glândula parótida secreta a saliva através do seu ducto parotídeo. A glândula submandibular secreta a saliva através do seu ducto submandibular, e a glândula sublingual secreta a saliva através de numerosos ductos menores localizados na base anterolateral da língua. Como a saliva passa através dos ductos, a sua composição de eletrólitos é modificada de tal forma que a saliva que chega à boca é hipotônica com relação ao plasma e possui uma maior concentração de bicarbonato.

Musculatura
Inervação da Lingua
Dorso da língua.

 

 

A gengivite é uma inflamação das gengivas provocada pelo acúmulo bacteriano nos vestíbulos entre os dentes e a gengiva. O desenvolvimento da placa bacteriana e do tártaro pode provocar a irritação da gengiva, que leva ao sangramento e ao inchaço, e, se não tratada, pode resultar na
danificação do osso e na perda dos dentes.

Gengivite
Gengivite – Tártaro

 

EXAME DA CAVIDADE ORAL E OROFARINGE

1. Introdução

O exame da cavidade oral (boca) e orofaringe permite identificar alterações importantes relacionadas a infecções, inflamações, tumores e problemas dentários. É um componente essencial da avaliação clínica, pois condições bucais podem impactar a saúde geral do paciente, interferir em nutrição, autoestima, empregabilidade e até favorecer complicações sistêmicas (p. ex., endocardite).


2. Preparação e Iluminação

  1. Iluminação Adequada:

    • Utilize um foco de luz adequado (lanterna ou espelho frontal).

    • Especialistas em cabeça e pescoço normalmente usam lâmpadas de cabeça que permitem examinar com as duas mãos livres.

  2. Posição do Paciente:

    • O paciente pode estar sentado em posição confortável.

    • Se necessário, peça que incline levemente a cabeça para trás e abra bem a boca.

  3. Instrumentos:

    • Espátula de madeira (abaixador de língua) para afastar a língua e examinar áreas mais profundas.

    • Lanterna ou otoscópio para melhor visualização.

    • Luvas e, se for preciso, gazes para auxiliar na inspeção da língua e estruturas adjacentes.


3. Sequência de Exame: Passo a Passo

3.1 Inspeção da Faringe

  1. Peça ao paciente que abra a boca e projete a língua para fora.

  2. Peça que diga “Ah”, o que eleva o palato mole e expõe melhor a orofaringe.

  3. Se ainda assim não for possível visualizar bem, utilize a espátula:

    • Apoie a espátula na língua (aproximadamente até a metade ou 2/3), pressionando suavemente para baixo.

    • Durante essa manobra, o “Ah” ajuda a elevar a úvula e melhorar a visibilidade do palato e amígdalas.

  4. Atenção ao reflexo de vômito (gag reflex):

    • Em situações específicas (p. ex., após um AVC que afete nervos cranianos IX ou X), pode ser necessário testá-lo tocando a parede posterior da faringe ou a úvula com um cotonete.

    • Em exames de rotina, não se realiza a indução do reflexo por ser desconfortável para o paciente.

Uvula e Palato Mole

  • A úvula normalmente fica no centro. Ao dizer “Ah”, ela se eleva de modo simétrico.

  • Desvio de úvula: se houver paralisia do nervo craniano IX (glossofaríngeo) em um dos lados, a úvula tende a desviar para o lado saudável (ou seja, afastando-se do lado lesionado).

3.2 Aspecto Geral da Orofaringe

  • Cor: o normal é um tom de vermelho “opaco”.

  • Infecções (faringite, amidalite): podem deixar a região vermelha, com exsudato amarelado ou esbranquiçado (muito comum em amigdalites bacterianas, como a estreptocócica).

  • Assimetria: Se houver abscesso periamigdaliano, pode ocorrer um abaulamento de um dos lados, empurrando a úvula para o lado oposto.

3.3 Amígdalas (Tonsilas)

  • Localizam-se em uma “alcova” entre os arcos palatinos (lateralmente à úvula).

  • Podem variar de muito pequenas a bastante proeminentes mesmo em indivíduos saudáveis.

  • Amígdalas infectadas: ficam vermelhas, com exsudato esbranquiçado/amarelado.

  • Abscesso periamigdaliano:

    • Assimetria visível, desvio da úvula para o lado contrário.

    • Pode reduzir significativamente o espaço na cavidade oral e causar dificuldade para respirar ou engolir.


4. Exame da Cavidade Oral e Dentição

  1. Gengivas e Mucosa Bucal:

    • Verifique se estão hidratadas ou com aspecto seco (pode sugerir desidratação).

    • Busque lesões, ulcerações, placas suspeitas.

  2. Dentição:

    • Observe o número de dentes, possíveis ausências, fraturas, cáries.

    • A saúde dentária tem impacto não só local (dor, infecção), mas também sistêmico (risco de endocardite, outros).

    • Profissionais de saúde muitas vezes identificam problemas dentários devido à falta de acesso a odontologia em alguns contextos.

Manobras de Avaliação

  • Percussão suave em dentes que aparentem lesões ou cáries, pois dor ao toque pode indicar abscesso na raiz.

  • Inspeção detalhada com luvas e gaze para afastar bochecha e lábios, verificando qualquer infiltração, edema ou sangramento.


5. Exame da Língua

  1. Pedir ao paciente para projetar a língua para fora.

  2. Avaliar a mobilidade (Nervo Craniano XII – hipoglosso):

    • Se há lesão do nervo em um dos lados, a língua tende a desviar para o lado afetado.

  3. Inspecionar a superfície dorsal (parte de cima): presença de ulcerações, placas, inchaços ou lesões.

  4. Examinar a face ventral (parte de baixo) da língua:

    • Peça que o paciente erga a ponta da língua para o céu da boca ou segure-a com gaze para melhor visualização.

    • Observe pequenas saliências, veias, possíveis lesões ou úlceras.


6. Palpação e Lesões Suspeitas

  • Se alguma lesão for visualmente identificada (especialmente em pacientes tabagistas ou usuários de tabaco mascado), toque com cuidado para avaliar consistência, dor e extensão.

  • Lesões mais duras ou com bordas irregulares podem sugerir malignidade (câncer de células escamosas, p. ex.).

  • Em caso de dúvida, encaminhar para exame especializado ou biópsia.


7. Glândulas Parótidas e Ductos

  1. Localização: As parótidas ficam em cada bochecha, lateralmente, entre o ângulo da mandíbula e a região logo à frente da orelha.

  2. Sinais de infecção ou inchaço:

    • Edema perceptível na bochecha.

    • Dor na palpação local.

  3. Ductos de drenagem:

    • A desembocadura do ducto parotídeo (Stensen) fica próxima ao segundo molar superior.

    • Em infecções (p. ex., parotidites), pode haver secreção de pus ao pressionar a glândula suavemente.


8. Principais Achados Patológicos

  1. Infecções de garganta (faringite, amigdalite, abscessos periamigdalianos).

  2. Lesões de cárie, abscessos dentários, dor e inchaço, podendo haver repercussão sistêmica.

  3. Câncer de cavidade oral (principalmente em tabagistas, etilistas ou usuários de tabaco mascável).

  4. Alterações neurológicas (desvio de língua por lesão do nervo hipoglosso – CN XII; desvio de úvula por lesão de CN IX).

  5. Parotidite ou tumores de parótida, gerando volume e dor na região da bochecha.


9. Conclusão

O exame sistematizado da cavidade oral e orofaringe permite:

  • Identificar sinais de infecção precocemente (faringites, amidalites, abscessos).

  • Observar a saúde bucal (cáries, gengivas, perdas dentárias).

  • Reconhecer anomalias neurológicas (lesão de nervos cranianos IX, X, XII).

  • Palpar lesões suspeitas de malignidade, especialmente em grupos de risco (tabagistas).

A prática frequente desse exame e a correlação com a história clínica do paciente ajudam a realizar diagnósticos precoces e encaminhamentos adequados, contribuindo para uma melhor assistência em saúde global.

-Médico Especialista em Clínica Médica e Cardiologia com Mestrado em Ciências da Saúde - Medicina & Biomedicina
- Professor Universitário - Cadeira de Ciências Morfofuncionais aplicadas à Clínica na Universidade Anhanguera e UVV. - Diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia capitulo Espirito Santo 20/21. Membro da Equipe de Cardiologia do Hospital Rio Doce, Hospital Unimed Norte Capixaba e Hospital Linhares Medical center. CRM-ES 11491 RQE 10191 - RQE 13520

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